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Guerra entre facções em Porto Velho repercute na imprensa nacional
imagens: Reprodução
Rota de transporte de drogas, Rondônia vem sendo palco da disputa territorial entre PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho), duas das maiores facções criminosas do país. Os principais pontos da guerra entre o crime organizado são dois condomínios localizados na periferia da zona leste de Porto Velho, capital rondoniense: Morar Melhor e Orgulho do Madeira.
Nelas, os criminosos chegaram ao ponto de estabelecer regras de conduta, como exigir que motoristas abaixem o vidro do carro para entrar em regiões ou “respeitar o dia de culto”. Até faculdades deixaram de ter aulas por algumas semanas em razão do conflito entre as facções na capital do estado.
Professores da Unir (Universidade Federal de Rondônia) disseram ao UOL Notícias que se preocupam com a segurança do campus e dos alunos e alunas que moram na região do conflito. Segundo os docentes, a própria imprensa local não consegue cobrir a situação por medo de represálias. Segundo o promotor Fábio Casaril, que investiga o crime organizado pelo Gaeco (Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do MP-RO (Ministério Público de Rondônia), a disputa entre as facções é territorial.
“Essa guerra de facções não é de hoje, vem de longa data. É uma disputa de regiões da cidade. Temos alguns condomínios populares habitacionais que são disputados pelo CV, como o Orgulho do Madeira, e o Morar Melhor, ocupado pelo PCC e PCP [Primeiro Comando do Panda]”, disse em entrevista ao UOL Notícias.
Casaril explica também que a região é rota do tráfico de drogas, principalmente de cocaína, pela proximidade com a Bolívia, que, segundo investigações do Gaeco, é um dos principais países produtores da droga na América do Sul, ao lado de Colômbia e Peru. “Somos um estado que faz fronteira com a Bolívia —e é uma fronteira seca, gigante, que não consegue ser monitorada em tempo real. Então é rota. Já investigamos que a droga passa aqui para ir para o Nordeste e para o Sudeste, para os grandes traficantes, e para o mercado local, com os pequenos traficantes”, disse o promotor.
O conflito nos condomínios começou com mais intensidade, afirma Casaril, há cerca de três anos. “Ficou mais forte quando a PCP surgiu e começou a crescer, se aliando ao PCC. O CV ficou com receio de perder território e se virou contra o PCP e o PCC”, detalha.
Conflitos amedrontam moradores Segundo um morador de Porto Velho ouvido pelo UOL Notícias sob anonimato, a situação na região começou a ficar mais “caótica” no fim de 2019 e no começo de 2020, “tanto pela falta de policiamento, que, à época, era quase nula, quanto pela crescente tensão entre facções criminosas rivais”. Em agosto de 2022, os confrontos se intensificaram na região e o medo se instalou na população. As aulas chegaram a ser suspensas na Unir. “Foram quase três semanas de aula presencial devido ao clima de constante risco que se instaurou na cidade inteira”, disse o morador.
Os conflitos, segundo ele, estouraram em diversos locais da cidade, para além dos dois condomínios residenciais. Ele chegou a presenciar um deles. “Sair na rua era complicado devido ao medo constante. Presenciei cenas de pessoas correndo, em total desespero, para todas as direções, quando um carro efetuou disparos a esmo em uma das noites. Ninguém se feriu, felizmente, porque aparentemente eram disparos de aviso”
Em ambos os condomínios, as facções colocaram “regras” que os moradores deveriam seguir. No residencial Morar Melhor, os avisos foram pintados com tinta vermelha: “proibido roubar morador” e “entrar com vidro fumê abaixado” eram alguns deles. “Estamos totalmente à mercê deles”, desabafa o morador. Uma semana depois dos tiroteios, as regras foram apagadas.
O policiamento na região ficou muito mais forte depois dos tiroteios, ainda segundo o morador, mas não amenizou o medo. “É desconfortável chegar em casa depois de um dia exaustivo de trabalho e ser recepcionado com duas, três, quatro, cinco viaturas rondando o perímetro. Eles deviam passar a sensação de segurança, de vigia, mas o clima constante de um possível confronto ainda paira no ar”.
O promotor Fábio Casaril, do MP-RO, apontou que, mesmo com o clima de terror espalhado pela cidade, a investigação não confirmou um auge na violência. “É uma sequência do que já vemos nos últimos períodos”, apontou. “É mais fácil para essas facções se instalarem nessas regiões mais periféricas da cidade por conta da vulnerabilidade e ausência do Estado”, completou.
Procurados, a Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania e as assessorias da Polícia Civil e da Polícia Militar não se manifestaram.
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