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Milhares de ribeirinhos sem água, ‘montanhas de pedras’ e bancos de areia gigantes: o retrato da seca histórica no rio Madeira

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O rio Madeira possui quase 1,5 mil quilômetros de extensão. No entanto, com a seca histórica registrada nos últimos meses, essa imensidão de água “desapareceu” e deu lugar às “montanhas” de pedras e bancos de areia gigantes onde antes era possível se afogar.

Moradores das comunidades ribeirinhas, que dependem da água de poços amazônicos, viram sua única fonte de água limpa secar. As comunidades ribeirinhas em Porto Velho são divididas em três regiões: Alto, Médio e Baixo Madeira.

“Aqui tá todo mundo sem acesso à água potável, os poços secaram e a água [que restou] está amarela, suja. Está uma crise horrível, tudo seco, as praias enormes”, relata Severino Nobre, morador e líder comunitário da comunidade de Cujubim Grande, no Médio Madeira.

De acordo com a Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (Caerd), pelo menos 15 mil pessoas são afetadas pela falta de água na região às margens do Madeira.

“Grande parte daquela população [ribeirinha], que tem aproximadamente 15 mil pessoas, fazem uso de poços tubulares profundos ou poços amazônicos e com a baixa do lençol freático, isso vem prejudicando muito a extração de água e consequentemente o uso de água própria para consumo humano”, aponta Lauro Fernandes, diretor técnico da Caerd.

Segundo Severino Nobre, os moradores das comunidades precisam percorrer mais de 30 quilômetros, até a cidade, para comprar água.

“A gente bota os vasilhames na caminhonete e traz lá de Porto Velho pra beber e fazer comida. Lá [na comunidade] tá seco o poço e agora está ficando difícil porque é um poço só pra muita gente pegar água”.

O líder comunitário relata que somente no Médio Madeira são mais de 200 famílias que dependem de um único poço e uma bica (queda d’água).

O trajeto até a cidade precisa ser feito por meio de uma linha rural que passa por trás da comunidade, já que a margem do rio “sumiu” em alguns pontos.

“Tá uma praia gigante em São Miguel [uma das comunidades do Médio Madeira]. Secou tudo, não tem como nem eles irem pegar mais água porque a beira do rio sumiu e não tem como atracar embarcação”, explica.

 

A Defesa Civil informou que esteve presente nas comunidades ribeirinhas e constatou a falta de água.

“Nós vimos a dura realidade de ver as comunidades onde os poços amazônicos têm secado. [..] Quando seca um poço amazônico, essa família tem que se deslocar para tentar pegar água do próprio rio. E essa água não vem com qualidade. Pra minimizar isso a gente distribui hipoclorito pra ver se eleva essa água para um nível de qualidade suficiente para ser consumida”, explica Elias Barros, coordenador da Defesa Civil.

Seca histórica

 

Nas últimas semanas, a seca que atingiu o rio Madeira se tornou histórica. A Defesa Civil informou que registrou o nível de 1,43 metros. Depois disso, uma reunião foi realizada na “Sala de Crise”, entre integrantes de órgãos que monitoram as bacias do rios na Amazônia.

Atualmente Porto Velho está em estado de alerta. Caso o rio baixe para 1,22 metros, o município passa para estado de emergência.

Desde agosto, o nível do rio baixou rapidamente. Em menos de uma semana, entre o fim de agosto e início de setembro, o nível do Madeira recuou mais de um metro. Na época, a Defesa Civil já previa uma seca histórica.

De acordo com a Defesa Civil, as áreas mais perigosas ficam na região do Médio Madeira, em Porto Velho, onde os barrancos alcançam quase 10 metros de altura e podem ocorrer desbarrancamentos.

Impacto na distribuição de água

A Caerd informou que a seca e o calor excessivo têm afetado a distribuição da água em Porto Velho.

“Isso faz com que a população consuma muito mais água. Em paralelo a isso, nós ainda temos o prejuízo decorrente do mal uso desse recurso hídrico. A gente pede que a população tenha compreensão e nos ajude nesse momento. Evitar desperdício”, aponta Lauro Fernandes, diretor técnico da Caerd.

Sem boas previsões

De acordo com Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), a previsão para as próximas semanas é que o nível “no mínimo” permaneça onde está. Sem perspectiva de subida.

“No caso do Madeira há uma previsão meteorológica de chuvas abaixo da média e a bacia do Madeira, 80% dela está na Bolívia. Ela é uma bacia internacional, a gente chama de transfronteiriça. Então a gente não tem uma perspectiva de elevação nesse momento”, comenta a coordenadora de Hidrologia substituta, Astrea Jordão.

fonte: g1/rondônia

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