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Política

CPI dos Institutos de Pesquisa tem assinaturas suficientes para abertura

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O senador Marcos do Val (Podemos-ES)

ROQUE DE SÁ/AGÊNCIA SENADO – ARQUIVO

O requerimento para a abertura da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Institutos de Pesquisa tem número de assinaturas suficiente para a criação do grupo. Segundo o senador que elaborou o documento, Marcos do Val (Podemos-ES), 27 parlamentares apoiaram e outros ainda devem assinar o pedido. A intenção é entregar o requerimento ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), nesta quinta-feira (6).

“A eleição de 2 de outubro de 2022 novamente comprovou um fenômeno que vem sendo observado em eleições recentes, qual seja, a expressiva discrepância entre a intenção de voto aferida e os resultados efetivamente apurados”, disse o senador no requerimento. No texto, o senador destaca a necessidade de conhecer os critérios técnicos e científicos das pesquisas.

Marcos do Val citou, no texto, “expressivos e inegáveis impactos dessas pesquisas na formação do cenário político-eleitoral […] e na formação da decisão do voto pelo eleitor”; a “possibilidade, convincente, de preferências de algumas instituições por determinados candidatos”; e a variação de resultados entre institutos.

Segundo Do Val, na terça (4) tinham assinado o documento o próprio senador e os colegas Mecias de Jesus (Republicanos-RR), Eduardo Girão (Podemos-CE), Telmário Mota (PROS-RR), Marcos Rogério (PL-RO), Carlos Portinho (PL-RJ), Jorge Kajuru (Podemos-GO), Plínio Valério (PSDB-AM), Lucas Barreto (PSD-AP), Eliane Nogueira (PP-PI), Guaracy Silveira (PP-TO) e Zequinha Marinho (PL-PA).

– Flávio Bolsonaro (PL-RJ)

– Styvenson Valentim (Podemos-RN)

– Lasier Martins (Podemos-RS)

– Esperidião Amin (PP-SC)

– Reguffe (União Brasil-DF)

– Vanderlan Cardoso (PSD-GO)

– Eduardo Velloso (União Brasil-AC)

– Luis Carlos Heinze (PP-RS)

– Wellington Fagundes (PL-MT)

– Elmano Férrer (PP-PI)

– Ivete da Silveira (MDB-SC)

– Rodrigo Cunha (União Brasil-AL)

– Roberto Rocha (PTB-MA)

– Soraya Thronicke (União Brasil-MS)

– Romário (PL-RJ)

– Jayme Campos (União Brasil-MT)

Os resultados do primeiro turno das eleições, que ocorreram no último domingo (2), contradisseram as previsões das pesquisas feitas pelos principais institutos de levantamento sobre a preferência do eleitorado do país. Na eleição presidencial, por exemplo, Datafolha e Ipec davam menos de 40% dos votos para o presidente Jair Bolsonaro (PL) e apontaram a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhar sem a necessidade de segundo turno, mas ambos erraram.

Desde agosto, o Ipec fez sete pesquisas de intenção de voto para a corrida ao Palácio do Planalto. Considerando os votos válidos, o petista oscilou de 52% para 51%. Levando em conta a margem de erro de 2 pontos percentuais estabelecida pelo instituto, o Ipec se aproximou do resultado divulgado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que registrou 48% dos votos para Lula.

No entanto, a empresa não chegou nem perto do total de votos obtidos por Bolsonaro. O presidente teve 43%, segundo o TSE. Nos sete levantamentos do Ipec, contudo, o chefe do Executivo começou e terminou com 37% dos votos válidos. Com o Datafolha, não foi diferente. Em seis pesquisas feitas desde agosto, Lula iniciou com 51% dos votos válidos e terminou com 50%. Bolsonaro tinha 35% na primeira amostra e 36% na última.

Os levantamentos para alguns governos estaduais também não se confirmaram. Em Mato Grosso do Sul, o Ipec divulgado na véspera da eleição listava André Puccinelli (MDB) com a maior intenção de votos, mas ele acabou nem indo ao segundo turno, que será disputado por Capitão Contar (PRTB) e Eduardo Riedel (PSDB).

No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) aparecia com 40% dos votos válidos, segundo o Ipec — 10 pontos percentuais à frente de Onyx Lorenzoni (PL). No fim, Onyx terminou a apuração à frente, com 37,5% dos votos, e Leite se classificou para o segundo turno com uma diferença de apenas 2.441 votos do terceiro colocado, Edegar Pretto (PT).

No Rio de Janeiro, antes das eleições, o Datafolha apontava o governador Cláudio Castro (PL) com 46% e Marcelo Freixo (PSB), com 40%, o que configuraria segundo turno. No entanto, Castro foi reeleito em primeiro turno: recebeu 58,57% dos votos, contra 27,38% para Freixo.

Outro exemplo foi São Paulo. Fernando Haddad (PT) era tido como o favorito pelo Ipec e pelo Datafolha, que lhe davam 41% e 39%, respectivamente. Tarcísio de Freitas (Republicanos) aparecia em segundo lugar, com 31% em ambos os institutos. Os dois acabaram indo para o segundo turno, mas com Tarcísio à frente. De acordo com o TSE, o candidato do Republicanos teve 42,32% dos votos, contra 35,7% de Haddad.

Senado

Algumas previsões das empresas para o Senado também falharam. Em Goiás, o Ipec previa a eleição de Marconi Perillo (PSDB), com 31%. No entanto, quem venceu foi Wilder Morais (PL), com 25,25% — no Ipec, ele era apenas o quarto colocado.

Em São Paulo, Márcio França (PSB) era tido como favorito pelo Datafolha e pelo Ipec, com 45% e 43%, respectivamente. O eleito, entretanto, foi o ex-ministro Marcos Pontes (PL), com 49,68%, que estava em segundo lugar nas pesquisas.

Outra estimativa que não se confirmou foi em Santa Catarina. Jorge Seif (PL), que tinha apenas 19% das intenções de voto, segundo o Ipec, venceu a disputa, com 39,79%. Raimundo Colombo (PSD) liderava as pesquisas do instituto, mas ficou em segundo lugar.

No Rio Grande do Sul, o Ipec também não acertou. O instituto punha Olívio Dutra (PT) como favorito, mas o vencedor foi Hamilton Mourão (Republicanos).

Perda de credibilidade

Na avaliação de especialistas, a quantidade de erros compromete a credibilidade das empresas. Doutor em ciência política, Leandro Gabiati diz que os institutos de pesquisa fazem parte do processo eleitoral e ajudam o eleitor a entender melhor o contexto no qual ele vai votar, mas avisa que a baixa assertividade atrapalha o cenário eleitoral.

Quando as pesquisas trazem informações erradas, isso confunde o eleitor. E, se os institutos passam a ter descrédito na sociedade e com atores políticos, isso é negativo para a democracia como um todo. É fundamental que os institutos façam um mea-culpa e aprimorem a metodologia e as ferramentas de pesquisa para acertar mais

LEANDRO GABIATI, DOUTOR EM CIÊNCIA POLÍTICA

De acordo com ele, até o segundo turno, que acontece em 30 de outubro, a tendência é que a sociedade não acredite nas pesquisas de intenção de voto que serão divulgadas. “Os institutos continuarão fazendo pesquisas. Os que contratam vão continuar contratando, mas certamente com muita dúvida e muito questionamento naquilo que venham a apresentar nos próximos 30 dias. Ainda que acertem, a desconfiança está posta.”

O cientista político Rócio Barreto acredita que os institutos também precisam aperfeiçoar a metodologia dos levantamentos. Na avaliação dele, as empresas deixaram de considerar alguns aspectos do eleitorado, como o voto dos indecisos. “É preciso investigar melhor o motivo de a pessoa estar indecisa. Perguntar em quem ela poderia votar caso mude de ideia, se ela tem um plano B para a eleição. Esse percentual pode fazer a diferença no resultado da pesquisa.”

Para Barreto, o mais importante agora é que os institutos deem uma explicação sobre os resultados equivocados. “A partir do momento em que eles conseguirem explicar as razões do erro, acredito que conseguem ganhar a confiança novamente. Caso contrário, isso continuará prejudicando a imagem das empresas e fazer com que elas percam confiança.”

Ambos afirmam que é provável que, a partir do próximo ano, o Congresso Nacional discuta alguma medida para estabelecer normas e parâmetros para a realização das pesquisas. “Com o novo Congresso, devemos ter algum movimento entre os parlamentares para regrar a atividade das empresas de pesquisa. Há muita insatisfação e indignação em relação aos institutos”, analisa Gabiati.

Ao R7, o Ipec disse que as pesquisas eleitorais medem a intenção de voto no momento em que são feitas e que, quando realizadas continuamente ao longo do processo eleitoral, são capazes de apontar tendências, “mas não são prognósticos capazes de prever o número exato de votos que cada candidato terá”.

Sobre os resultados das amostras para a Presidência da República que indicaram um resultado muito distante do obtido por Bolsonaro após a apuração das urnas, o Ipec respondeu que isso pode ter acontecido por causa dos votos de eleitores que estavam indecisos ou que deixaram de votar em Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) para votar em Bolsonaro. “Tais fatores já demonstravam uma provável migração de votos desses dois candidatos para Jair Bolsonaro.”

Por fim, em relação às variações de resultados observadas nas pesquisas estaduais do primeiro turno, o Ipec comentou que “seu compromisso de buscar soluções que eventualmente possam ser agregadas ou consideradas em conjunto com a sua metodologia e procedimentos operacionais. Contudo, este é um processo que requer tempo de estudo, análise e comprovação de hipóteses, para que possam ser implementados”.

A reportagem não conseguiu contato com o Datafolha.

Luiz Calcagno, do R7, em Brasília, e Isabella Macedo, da Record TV

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