A comunicação é uma das ferramentas úteis para transformar os resultados das pesquisas rurais em Rondônia em informação no campo. Na unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no estado, por exemplo, a linguagem técnica é “traduzida” por Renata Silva, assessora do núcleo de comunicação. É ela quem faz a divulgação de estudos e tecnologias realizados pelos pesquisadores.
A fusão entre rural e o trabalho como jornalista é oriunda de uma paixão da assessora herdada dos pais pelo assunto. Segundo Renata, eles tiveram a produção rural como parte da renda da família. Natural de São José dos Campos (SP), a jornalista chegou em Alta Floresta D’Oeste (RO) quando tinha apenas 2 anos – o município fica a cerca de 530 quilômetros de Porto Velho.
Renata se formou em Comunicação Social (habilitação em jornalismo) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). A instituição é reconhecida como centro de excelência em Ciências Agrárias. Renata, que tem especialização em Comunicação e Marketing, conta que o contato com o campo sempre foi algo próximo.
“O fato de eu ter tido essa vivência no campo me ajuda a entender o outro lado da moeda. Na Embrapa eu atuo com a linguagem muito técnica e eu preciso levar essa informação técnica de uma maneira muito mais leve, simples para que o produtor possa entender e adotar as tecnologias que vão facilitar a vida dele no campo, e gerar melhorias da qualidade de vida”, disse.
A relação da jornalista com o agronegócio é desde a infância. — Foto: Arquivo pessoal
‘Mulheres dos Cafés no Brasil’
Mesmo com a experiência no campo e com trabalhos produzidos sobre a cafeicultura de Rondônia, foi depois de ser convidada à uma reunião com a equipe da Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA), em Belo Horizonte (MG), em 2017, e produzindo o livro ‘Mulheres dos Cafés no Brasil‘, que Renata diz que passou a ter uma visão diferente à mulher no campo.
“Voltei da reunião com a minha cabeça completamente transformada e passei a ver a mulher na cafeicultura. Por mais que eu trabalhasse há anos com a cafeicultura na Embrapa, eu não tinha percebido esse olhar para a mulher na cafeicultura”, diz a jornalista.
É no capítulo 14 que Rondônia tem destaque. A jornalista discorre o quadro da cafeicultura da região, conta histórias das mulheres que são envolvidas nessa cultura, resgata a história de como o café passou a fazer parte das famílias rurais do estado e cita dados da situação e atuação das mulheres na sociedade.
“Um dos dados levantados aponta que as mulheres que atuam no campo contribuem mais com a renda familiar (42,4%) do que as que vivem nas cidades (40,7%). Ainda de acordo com o IBGE, em 2000, as mulheres chefiavam 24,9% dos 44,8 milhões de domicílios particulares. Em 2010, essa proporção cresceu para 38,7% dos 57,3 milhões de domicílios, o que representa um aumento de 13,7%”, diz Renata no livro Mulheres dos Cafés no Brasil.
Com essa visibilidade, a jornalista destaca que a atuação da mulher no agro é uma forma de somar ao lado do homem no trabalho.
“A gente vê que a mulher vem conquistando cada vez mais espaço, postos de gestão, ela tem sido mais visível e isso é muito importante. Pois, a mulher traz características, que são peculiares. A sensibilidade por exemplo, a mulher tem uma visão mais global das coisas, ela consegue ter estratégias mais humanas para tratar das situações”, explicou
“A mulher no agro é para caminhar junto ao homem, somando as características peculiares dos dois”, disse Renata.
Foi a partir do encontro de mulheres da indústria do café dos Estados Unidos e Canadá com produtoras de café na Nicarágua que surgiu a organização sem fins lucrativos International Womens’s Coffee Alliance (IWCA), em 2003.
A IWCA tem como missão fortalecer as mulheres que atuam em todos os elos da cadeia. Além da IWCA Brasil, a organização existe nas filiais nos países de Burundi, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Índia, Quênia, Nicarágua, Filipinas, República Democrática do Congo, República Dominicana, Ruanda, Tanzânia e Uganda, que são produtores.
A jornalista é editora das revistas que são consideradas portfólio da Cafeicultura na Amazônia — Foto: Arquivo pessoal
Café que inclui
O trabalho com o café, segundo Renata, foi um marco em sua carreira. Ao lado do engenheiro agrônomo Enrique Anastácio Alves, que é o criador da identidade dos Robustas Amazônicos, marca adotada para caracterizar e identificar os cafés produzidos em Rondônia, a jornalista está na realização de todos os eventos e ações para a cafeicultura do estado.
“Foi com o Café que a gente conseguiu realizar diversas ações de comunicação e ter a notoriedade para a cafeicultura do estado. Esse destaque todo, na nossa visão, foi muito inclusivo, pois a gente tentou incluir a mulher dando visibilidade à ela. Os indígenas que produzem o grão, os produtores com sustentabilidade e que são os protagonistas do nosso trabalho”, diz Renata, que também é a editora da revista Cafeicultura na Amazônia.
Rondônia é o quinto maior produtor de café do país e está entre os três maiores produtores da espécie Coffea Canephora (conilon e robusta). A safra de 2019 do grão foi de quase 2,1 milhões de sacas, cultivados em uma área de 62.729 hectares, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O café de Rondônia tem obtido destaque e reconhecimento pela qualidade do produto, reconhecido como Robusta Amazônico. Em 10 anos, a produtividade saiu de 10 sc/ha para 33, o que representa um salto de 230% que ocorreu, principalmente, a partir de 2014 com o uso de tecnologias como irrigação, adubação e manejo adequado, além de novas variedades clonais, mais produtivas e que vêm substituindo as lavouras propagadas por sementes. Essas transformações têm chamado a atenção no cenário produtivo nacional.
O café em Rondônia, em termos gerais é o 5º maior produtor do país e o 3° maior da espécie Canéfora, que inclui o robusta e o conilon — Foto: arquivo pessoal
Parceria de sucesso
Criador da identidade dos Robustas Amazônicos, o engenheiro agrônomo e pesquisador Enrique Anastácio Alves ressalta o trabalho realizado pela jornalista na facilitação à compreensão do público alvo dos estudos feitos na Embrapa Rondônia.
“O trabalho que a Renata faz é muito importante. Pois é necessário saber transmitir a informação para o público alvo da pesquisa, que são os produtores, a sociedade e que vão usufruir dos produtos gerados pela Embrapa”, opina.
Enrique, que é mestre em Engenharia Agrícola, Análise da Variabilidade espacial da qualidade do café cereja cultivado em região de montanha, além de doutor em Engenharia Agrícola, Variabilidade espacial e temporal da qualidade do café produzido na região das Serras de Minas, ambos na UFV, é um dos protagonistas da evolução da cafeicultura no estado, especialmente quanto à valorização da qualidade do café robusta.
O pesquisador ressalta ainda que a parceria deles é fundamental para divulgar o resultado de anos de pesquisas. “É função dela levar a história de como foi feito e de todo o embasamento científico por trás disso e transcrever essa linguagem técnica e científica de forma palatável para quem consome as nossas tecnologias”, finaliza Enrique, que atua nas áreas de Colheita, pós-colheita e qualidade de bebida do café.
Mulheres no campo
Dados do IBGE do Censo Agropecuário 2017 mostram que, no Brasil, 3,6 milhões de pessoas vivem no campo, sendo quase 700 mil mulheres, o que equivale dizer que 19% dos produtores individuais são do sexo feminino.
Em Rondônia, um dado chama a atenção para evolução no processo de fixação e permanência das mulheres na área rural.
Em 2006, o número de homens foi contabilizado em 79.257 e de mulheres 7.821. É possível observar neste levantamento que em 2017, aqui no estado, houve evasão dos homens e aumento das mulheres no campo. Os números foram registrados assim: 76.826 homens e 14.328 mulheres. Cerca de 100% a mais de representantes femininas em pouco mais de uma década no estado.
Fonte: G1/Ro